Monsenhor Pedro Maia Saraiva

Monsenhor Pedro Maia Saraiva

Hoje (07/12) completou 5 anos de falecimento de Monsenhor Pedro Maia Saraiva.

Tive a oportunidade de conviver de perto com esse grande homem de Deus e pude desfrutar de seu vasto conhecimento e vivência.

Lembro-me de suas histórias de vida que me contava sempre, seu amor pelo vasco e de falar que gostava muito de doce de abóbora, como ele sempre dizia “sem coco”.

Aos domingos Monsenhor Saraiva, costuma almoçar em casa de amigos e pude ter esse privilégio de leva-lo algumas vezes lá no Campo de Semente para almoçar. E ele disse, numa dessas vezes: “um dia vou vir aqui, tomar banho nesse rio”.

Como foi bom estar próximo dele durante todo esse tempo, pois ganhei muito e pude desfrutar da companhia de um grande Itaocarense.

De muito de suas histórias, lembro dele contando das missas que celebrou nas roças em épocas de chuva, onde ia de cavalo e chegava todo molhado e cumpria seu papel.

Em uma dessas épocas, ele de carroça, mandou atravessar uma ponte mesmo submersa pelo rio, somente confiando na fé que lá estaria a ponte e assim conseguiu chegar ao seu destino.

Em suas consagrações nas Santas Missas, ele dizia: “tem que descer e contemplar a Eucaristia devagar”, nunca vi uma pessoa com tanto amor a vocação e zelo pelo que fazia.

Levei Monsenhor Saraiva algumas vezes em suas celebrações nas capelas e me lembro uma vez, ele mesmo com muita febre se manteve quieto sem reclamar e fez sua celebração, foi quando perguntei a ele, mas monsenhor você está com febre, não prefere ficar em casa? E ele me disse: “padre só aposenta quando morre”.

Por isso e muitas outras coisas que pude viver com ele, deixo aqui registrado minha homenagem a Monsenhor Saraiva, que tenho certeza, do Céu intercede por todos nós Itaocarenses.

Para quem desejar fazer uma oração em seu túmulo, ele fica na Igreja Matriz, ao entrar na porta principal, você encontrará 3 portas de madeira, vire a esquerda e siga reto. Vai ver um placa na parede, alí está seu túmulo. Como ele sempre falou: “quero ser enterrado dentro da igreja”.

Que Deus abençoe a todos nós neste dia de oração.

Ronni M. Madeira


Abaixo, segue a entrevista de Ronald Thompson, fez com Monsenhor a alguns anos atrás.

Nascido em São Roque. Filho de família pobre, oriunda de Minas Gerais, cujo pai trabalhava plantando fumo. A dureza da vida o levou aos dez anos a juntar-se com outros três meninos e começar a trabalhar como engraxate. O dinheiro arrecadado ajudava a fazer as compras de casa. O menino engraxate tornou-se um dos maiores ícones da sociedade itaocarense. Trata-se do Monsenhor Saraiva.

Fundo de Cena


Há muito tempo quero entrevistar o Monsenhor Pedro Maia Saraiva, por vê-lo como uma das principais personalidades da história de Itaocara. Ano passado pedi ao amigo Waltair Sias Gomes que intermediasse nosso encontro. Mesmo tendo sido atendido, em função do meu trabalho e dos estudos não pudemos nos reunir.
Felizmente fui convidado para um café da manhã comunitário da Polícia Militar no Nacional Esporte Clube. Lá encontrei Monsenhor. Atendeu-me com sua gentileza e amabilidade típicas, e começamos ali mesmo um bate papo que no dia seguinte transformou-se na entrevista desta edição.
No final fiquei impressionado com a coragem como enfrentou várias dificuldades da vida, desde a pobreza na infância, até a prisão no regime militar, tendo sempre o interesse da comunidade em primeiro lugar. O que vão ler é um documentário histórico que espero seja guardado para posteridade pela Biblioteca Pública e por todos os leitores.

Uma história


Com doze anos resolveu mudar-se para cidade. Ousado procurou o Prefeito Alcebíades Carvalho pedindo-lhe um emprego, travando o seguinte diálogo:
– Quantos anos você tem? – questionou o Prefeito.
– Não sei bem direito.
– Você é muito criança. Não vou lhe dar um emprego.
Nesse momento o Prefeito foi ao banheiro e deixou sua chave cair dentro da privada, ficando aturdido com o acontecido. O menino Saraiva não pensou duas vezes. Meteu a mão dentro do vaso sanitário e pegou-a, para espanto de Alcebíades, que ficou desesperado, procurando álcool para lavar-lhe a mão. No meio da agitação perguntou:
– Você é filho de quem?
– Zeca Mineiro, respondeu Saraiva.
– Seu pai votou contra mim.
– Eu nem voto. Não sou nem eleitor.
– Seu pai fala demais. Mas deixa pra lá. Você vai trabalhar aqui, como porteiro (uma espécie de boy da época).
Assim, com doze anos, lavando banheiros, varrendo o chão e fazendo pequenos serviços entrou para Prefeitura.

O início da vida


Nova Voz – O que era a “quadrilha”?
Monsenhor Saraiva– Quando jovem formei um grupo que fazia pequenos trabalhos na cidade, como carregar as malas dos passageiros que chegavam e saiam da estação para os hotéis, capinar quintais, carregar água, pois a maioria das casas não tinha água encanada e outros serviços gerais. Como numa cooperativa, no final do dia contávamos o dinheiro e dividíamos entre nós. O curioso é que os outros meninos eram de famílias ricas e mesmo assim, os liderava.
Nova Voz – O senhor era apenas uma criança na época, mas o Prefeito Alcebíades o respeitava muito.
Monsenhor Saraiva – É verdade. Lembro-me que depois de estar trabalhando com ele, pedi que desse emprego ao meu pai. Atendeu meu pedido e o contratou como varredor de rua. Foi uma alegria muito grande para nossa família. Conseguimos alugar a casa da italiana Ângela Nicola Mari, que em princípio não queria, pois disse ser meu pai velhaco por não pagar as contas. Voltei ao Prefeito que na hora tornou-se fiador e pudemos mudar. Viemos morar de frente a rodoviária.


Se quiser, ler a entrevista na íntegra, Clique Aqui!