cris-cosendeySe você nunca deu muita atenção para o que publica nas redes sociais – e o que é publicado pelas empresas – é bem provável que esteja perdendo boas oportunidades de conquistar a vaga que você sempre almejou. Isso porque aquela história de que as empresas utilizam as redes sociais para buscar determinados perfis profissionais não é mais só história. É realidade.

Nos avatares usados para apresentação nas redes sociais há ecos de personagens arquetípicos, que muito bem descreveu Carl Gustav Jung psiquiatra e psicoterapeuta suíço, que desenvolveu a psicologia analítica, propôs e desenvolveu os conceitos da personalidade extrovertida e introvertida, arquétipos e o inconsciente coletivo, e que se confundem com o perfil real.

foto - ilustração - internet

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Redes sociais sempre existiram. Bem antes de 1969, quando nasce a Internet, sociólogos e psicólogos sociais, entre outros, produziam estudos sobre por que os humanos reuniam-se em volta da fogueira para postar oralmente os últimos acontecimentos da tribo e escutar as frases dos caciques e pajés. O Facebook , o Twitter, o Instagram, entre outros, são a versão eletrônica de um comportamento iniciado quando o homem começa a desenvolver a linguagem.

E numa época onde a máxima “tudo junto e misturado”, acontece e se modifica rapidamente é importante pensar… “Fluidez” é a qualidade de líquidos e gases. (…) Os líquidos, diferentemente dos sólidos, não mantêm sua forma com facilidade. (…) Os fluidos se movem facilmente. Eles “fluem”, “escorrem”, “esvaem-se”, “respingam”, “transbordam”, “vazam”, “inundam” (…) Essas são razões para considerar “fluidez” ou “liquidez” como metáforas adequadas quando queremos captar a natureza da presente fase (…) na história da modernidade.

O trecho grafado acima faz parte do prefácio de Modernidade Líquida, uma das principais obras do polonês Zygmunt Bauman (1925), um dos mais importantes sociólogos da atualidade. Com uma linguagem simples e acessível, Bauman lança um olhar crítico para as transformações sociais e econômicas trazidas pelo capitalismo globalizado.

O conceito central do pensamento do autor, a “modernidade líquida” seria o momento histórico que vivemos atualmente, em que as instituições, as ideias e as relações estabelecidas entre as pessoas se transformam de maneira muito rápida e imprevisível. Para melhor compreender a modernidade líquida, é preciso voltar ao período que a antecedeu, chamado por Bauman de modernidade sólida, que está associada aos conceitos de comunidade e laços de identificação entre as pessoas, que trazem a ideia de perenidade e a sensação de segurança. Na era sólida, os valores se transformavam em ritmo lento e previsível. Assim, tínhamos algumas certezas e a sensação de controle sobre o mundo – sobre a natureza, a tecnologia, a economia, por exemplo.

Alguns acontecimentos da segunda metade do século XX, como a instabilidade econômica mundial, o surgimento de novas tecnologias e a globalização, contribuíram para a perda da ideia de controle sobre os processos do mundo, trazendo incertezas quanto a nossa capacidade de nos adequar aos novos padrões sociais, que se liquefazem e mudam constantemente. Nessa passagem do mundo sólido ao líquido, Bauman chama atenção para a liquefação das formas sociais: o trabalho, a família, o engajamento político, o amor, a amizade e, por fim, a própria identidade. Essa situação produz angústia, ansiedade constante e o medo líquido: temor do desemprego, da violência, do terrorismo, de ficar para trás, de não se encaixar nesse novo mundo, que muda num ritmo hiperveloz.

Quem estuda os usuários compulsivos da rede sabe que não é internet o problema, mas sim questões psicológicas como timidez, baixa autoestima, depressão ou doenças e manias. O anonimato da internet favorece a mentira. A mais comum delas é o peso, sempre para baixo. Agradar o coletivo exige medidas certas e afastamento da individuação em nome de personas específicas. Fotografias desatualizadas, idade, renda e estado civil (no caso de homens) seguem como informações menos confiáveis nos perfis on-line. Há pessoas que usam ferramentas como o Instagram como um palco. Mas há também aqueles que fazem dele uma espécie de livro, de repositório biográfico ou epistolar, muito mais interessadas em escrever e criar novas possibilidades produtivas de si do que comparar cliques ou manter a pirotécnica da felicidade.

Estamos povoados de imagens, cada vez mais férteis e interessantes, mas diante de quantas delas estamos em posição de dizer: “eu sou isso”. Na maior parte do tempo estamos deslizando de uma imagem para outra, ou nos esforçando para manipular a imagem que os outros fazem de nós, justamente para escapar do terrível “você é isso”.

O direito a transformar a própria imagem, ou seja, o direito a criar novas identificações, torna-se um direito extremamente perigoso quando distribuído farta e amplamente. Perigoso porque existe uma segunda maneira de ligar exibicionismo e narcisismo. A liberdade e a efemeridade da experiência de ser-sendo passa à coerção de transformar-se.

O excesso de atividade on-line pode levar a estados de aflição doentios, pois o grande volume de informações proporcionadas pelos ambientes virtuais, supera a capacidade humana de processamento. Muitos médicos não consideram o abuso de internet uma doença, mas um sintoma de problemas psicológicos já instalados. O mesmo ocorre com o hábito de assistir televisão ou jogar videogame. A dispersão é um efeito colateral da internet combatido por escolas e empresas, muitas delas restringem o uso de celular nas salas de aula e durante o expediente. Por outro lado, as novas gerações demonstram alguma adaptação cognitiva aos novos tempos.

Os especialistas confirmam que também virou rotina nos processos seletivos vasculhar nas redes sociais tudo o que puder contar pontos contra ou a favor de um profissional. É importante ter cuidado com o uso que se faz de todas essas maravilhas tecnológicas. Enquanto se está apenas se divertindo e tentando impressionar os amigos, um recrutador pode estar de olho no perfil para saber se você é adequado àquela vaga com a qual você sonha há anos. Cuidar da reputação online é tão necessário quanto construir um excelente currículo.

Dicas para evitar o vício em internet

A psicóloga comportamental Kimberly Young é considerada referência nas consequências do mau uso da internet para a saúde mental. Em seus estudos, ela aponta algumas medidas para evitar que a rede tome lugar excessivo na vida da pessoa.

A primeira medida é praticar o oposto, ou seja, tentar relacionar-se com pessoas no mundo off-line. Outra medida, no caso da leitura compulsiva de e-mails antes do café da manhã, por exemplo, é determinar metas e horários. Interromper a rotina online disfuncional é fundamental. Um sintoma que pode indicar vício em internet, segundo Kimberly Young, é verificar emails e atualizações das redes sociais antes do café da manhã.

Usar os finais de semana para atividades sociais off-line é outra sugestão. A abstinência da internet favorece outros aspectos da vida. Muita gente não percebe o tempo que a internet ocupa em suas vidas, daí a estudiosa sugerir que inventários pessoais, ou seja, a reflexão apurada dos hábitos cotidianos, possam ser úteis na identificação de potenciais malefícios do mundo online na vida de cada um.

Young indica ainda terapia pessoal e familiar, além da participação em grupos de apoio como medidas para os que suspeitam estar com a vida comprometida pelo uso abusivo da internet. Ainda não inventaram um equivalente virtual ao beijo, ao abraço, à serenidade de estar em companhia de alguém que amamos.

Dicas para se comportar nas redes sociais

Você não está apenas entre amigos

Nas redes sociais, como em qualquer outro lugar, há pessoas cheias de más intenções. Uma dessas pessoas pode estar louca de vontade de arrumar uma forma de prejudicar a sua imagem e, se você der bobeira, ela pode não perder a oportunidade. Pense, por exemplo, no café da empresa. Você não vai sair gritando o que pensa sobre aquele colega chato, pois é muito provável que pessoas não tão próximas a você escutem, certo? Para as redes sociais, vale tomar o mesmo cuidado.

Excessos pegam mal

“As redes sociais deixaram as pessoas mais escancaradas”, afirma Ana Vaz, consultora de imagem e etiqueta pessoal e corporativa. Antes de compartilhar qualquer coisa, pense se não está exagerando nos detalhes.

Tome cuidado com o que pode ser mal interpretado

Não há problema algum você tomar uma cerveja no final de semana, mas se você aparecer o tempo todo com um copo de bebida nas mãos pode passar a imagem de alguém que só quer se divertir ou, pior, que vive de ressaca. E aí?

Evite assuntos polêmicos

A boa e velha regra de não discutir religião e política, por exemplo, vale muito também para as redes sociais. Você pode, claro, ter suas convicções, mas não precisa escancarar tudo o que pensa. Lembre-se de que as pessoas podem ter opiniões diferentes da sua e fazer julgamentos precipitados. Se a sua opinião política for totalmente contrária à do recrutador você pode perder pontos porque, mesmo inconscientemente, ele pode simpatizar mais com outro candidato.

Olha o português!

Cuidado – muito cuidado – com erros de português. Por mais inocente que seja um post, se você mandar um “agente” no lugar de “a gente”, usar “mais” no sentido de “mas”, pode não ter outra chance para explicar que foi só um errinho de digitação.

Coloque-se no lugar do outro

“O que um cliente pensaria se visse isso?”. É essa a pergunta que muitos recrutadores fazem ao checar o perfil de um candidato nas redes sociais – principalmente se a vaga em questão exige relacionamento direto com clientes. Faça essa pergunta você mesmo antes de publicar qualquer coisa.

Não critique sua empresa

Tenha cuidado com o que você publica sobre a empresa em que trabalha atualmente. Se você fala mal – inclusive citando o nome – da empresa em que trabalha ou trabalhou, um recrutador que está de olho em você vai levar isso em consideração.

Seja cordial

Por fim, seja gentil e educado em qualquer situação. Ninguém quer contratar uma pessoa que demonstra falta de respeito em suas relações.