Livro sobre a Praça da Matemática

Livro sobre a Praça da Matemática

Não há dúvidas que o ex-prefeito de Itaocara, recentemente falecido, Dr. Carlos Moacyr Faria Souto, teve papel relevante em nossa história. No recente livro lançado sobre a Praça da Matemática, o Professor Pimenta fala não só do monumento, mas ressalta o Governo que mais fez o município se destacar no Estado do Rio.

Nova Voz – Como foi escrever o livro sobre a Praça da Matemática?

Professor Pimenta – Um grande prazer, por me sentir contribuindo com a história de Itaocara, cidade que amo e é pródigo em pessoas talentosas, como o idealizador do monumento, Dr. Carlos Moacyr Faria Souto. Meu trabalho de mestrado, na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, foi exatamente sobre a Praça da Matemática. Depois de tanto pesquisar e chegar à conclusão, o Secretário de Cultura Henrique Resende me incentivou a transformar este estudo num livro, como forma de perpetuar este registro histórico. Graças a Deus, o apoio dos amigos e da família, o livro torna-se realidade.

Nova Voz – Recentemente Dr. Carlinhos faleceu. Já é possível dimensionar o papel que teve em nossa história?

Pimenta – Apesar de crer que não se pode encerrar a pesquisa quando se trata de alguém com a relevância do Dr. Carlinhos, me arrisco a dizer que se trata de um dos mais importantes Prefeitos que Itaocara já teve. Suas obras são bem mais do que os monumentos que deixou. Tem a ver com o orgulho do povo ao dizer: “eu sou itaocarense, minha cidade tem a Praça da Matemática, a Praça da Geografia, e etc”. Isso é impressionante.

Nova Voz – A administração dele fez bem a auto-estima da cidade?

Pimenta – Quando vemos as pessoas contando algo de bom sobre Itaocara, quase sempre estão falando do governo Faria Souto. Lições de cidadania, de civilização, de educação, foram ministradas por ele, que se preocupava em contribuir com a formação de jovens sadios. Exatamente esse foco o fez diferente  e gera o orgulho de se dizer: ‘eu sou itaocarense’.

Nova Voz – Alguém teve papel especial em sua decisão de escrever o livro?

Pimenta – Nosso Secretário de Cultural, Henrique Resende, quando tomou conhecimento da minha pesquisa de mestrado, sugeriu que a transformasse em livro e buscou dar todo apoio possível. Quero agradecê-lo e ao Prefeito Alcione Araújo pelo apoio e incentivo. Não posso esquecer o Professor Ubiratan D’Ambrosio, um dos maiores matemáticos do mundo, que foi meu orientador na PUC-SP, e num gesto que demonstra toda sua generosidade, me honrou escrevendo o prefácio do livro. Agradeço também a minha esposa Sonia, grande companheira e eterna incentivadora, pois sem ela, com certeza, não teria conseguido nem alcançar o sucesso no mestrado, nem escrever o livro.

Nova Voz – A história que não se conta, corre o risco de se perder com o tempo?

Pimenta – No Colégio SEI buscamos ressaltar a história de Itaocara, com objetivo de perpetuar a memória e identidade da cidade.

Nova Voz – Como foi o lançamento do livro?

Pimenta – A noite de autógrafos foi maravilhosa. Impressionante o número de pessoas que participaram, grande parte viveu aquele momento único. Quase todos faziam questão de contar algo novo, comentar alguma coisa que ficou fora do livro. Recebi uma carta da Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, elogiando a obra. Foi realmente maravilhoso.

Nova Voz – O que motivou o Faria Souto a construir nossa famosa Praça da Matemática?

Pimenta – Essa é uma das curiosidades. Ele sempre foi apaixonado pela matemática, desde os tempos em que estudou no Colégio Militar. Não tenho dúvidas que o grande sonho dele era estudar matemática, mas a família era de advogados e isso o levou a fazer Direito. Quando Prefeito, aos 29 anos de idade, resolveu fazer um monumento a sua ciência preferida: A Matemática. Mas não podia ser qualquer monumento. Dr. Carlinhos queria algo realmente grandioso e procurou o principal matemático da época e um dos maiores de todos os tempos: Júlio César de Melo e Souza, ou, como ficou mundialmente conhecido, Malba Tahan.

Nova Voz – Quais são os detalhes desta história?

Pimenta – Faria Souto foi ao Rio conversar com o Malba Tahan, explicando o que queria. Este então teve a idéia de promover um concurso dentro da Escola de Belas Artes da Universidade do Brasil (atual UFRJ). Nossa praça saiu das mentes privilegiadas de uma das mais importantes instituições de ensino da America Latina. Isso a torna ainda mais importante. Ganha o projeto de Godofredo Forment. Fiz diversas tentativas de encontrá-lo, mas não logrei êxito. Queria achar alguém da família, até para notificá-los de que há uma cidade no Estado do Rio, cujo principal símbolo é um projeto de sua autoria. É outra curiosidade, o fato do autor da principal escultura de Itaocara, laureada no Brasil e no Mundo, jamais conhecer sua obra.

Nova Voz – Há outras homenagens conhecida do Faria Souto à matemática?

Pimenta – Os mais curiosos observem e verão na parte de baixo da concha acústica, o teorema de Pitágoras. Charlô, filho do Faria Souto, me contou que havia um projeto para que todo o Calçadão do Centenário fosse feito com fórmulas matemáticas. Então não faltam referencias a nobre ciência dos números deixada pelo Mestre Faria Souto.

Nova Voz – Dr. Carlinhos era realmente uma pessoa diferenciada.

Pimenta – Acho que qualquer filólogo o definiria simplesmente como gênio. Deus me deu a grande felicidade de escrever o livro sobre a Praça da Matemática quando ele ainda estava conosco, e assim fazer com que sentisse a homenagem e o carinho dos que o admiravam.

Nova Voz – Sua alma sempre foi jovem, não é mesmo?

Pimenta – Com certeza. Bem antes do frenesi das academias e do culto ao corpo dos dias atuais, Faria Souto se preocupava com a saúde. Buscou incentivar a prática de exercícios, como a natação, quando construiu a piscina pública. Tinha o ringue de boxe, aparelhos onde era possível fazer educação física, o dancing, quer dizer coisas maravilhosas e, detalhe, nada de outro mundo. A genialidade do Faria Souto também está no fato de que suas realizações maravilhosas são simples e baratas, do ponto de vista financeiro. Apesar das dificuldades, escreveu o nome do município em letras maiúsculas no mapa do Estado do RJ.

Nova Voz – É verdade que ele não se tornou um homem rico?

Pimenta – Pelo que sabemos, quando faleceu, morava numa casa alugada. Enquanto sociedade temos uma dívida enorme com Faria Souto. A grande maioria das suas obras não foram conservadas por governos posteriores, o que é lamentável. O Prefeito que levou Malba Tahan a escrever a seguinte declaração na revista Al Karismi, n° 1, edição de 1946: “Se você amigo, tem alma de turista, e deseja conhecer uma cidade realmente curiosa e interessante, não perca mais tempo. Vá logo a Itaocara”, não pode ser esquecido.

Obrigado Faria Souto! Você foi genial!