Michelle Viégas Vogas

Michelle Viégas Vogas

Quando a liberdade de expressão tomou conta de mim, pude ver o quanto posso fazer, o quanto posso escrever.

Buscando verdades, planejando sonhos e a grande vontade de me realizar interiormente, não pude resistir de fazer da minha vida uma busca íntima de meu coração. Foi então que, viajando em meus pensamentos, vaguei na mais profunda de minha alma tentando explicações que me levariam a entender melhor a minha.maneira de ser. Todos que passam nessa vida, tentam de qualquer forma planejar o que desejam viver, sentir e esperar o que acontecer.
Mas notei que meus sentimentos são de muita importância em todos os momentos pelos quais passo. Valorizo demais os acontecimentos, sejam grandes ou pequenos, procuro defini-Ios dos mais variados modos.
Resumindo minhas atitudes, posso dizer que o que mais aprecio nas pessoas é a humildade em primeiro lugar, pois na minha simplicidade, desvalorizo a arbitrariedade.MichelleQuiseram os desígnios da vida que um dia eu fosse solicitada para deixar alguns comentários na estréia literária de Michelle. Só Deus sabe com que alegria os faço!Foi minha aluna na sétima série, se não me engano, por volta de 1991. Era no Colégio Estadual Frei Tomás, na cidade de ltaocara. Lá nos encontramos entre carteiras e quadros de giz. Aquela pequena, doze para treze anos, realizando as tarefas escolares – redações, entrevistas, reportagens – não me deixou entrever a fluidez nas palavras que teria no transcurso de tão poucos anos. Mas é uma realidade. Lendo seus manuscritos, manifestações do interior de adolescente, sinto a facilidade com que deixa as palavras irem riscando .as linhas e as páginas. São memórias, não resta dúvida, porém, que memórias terá essa menina mal saída da puberdade? Que tem tanto para contar, se viveu tão pouco ainda? Mas – palavras dela todos nós temos um passado, mesmo logo após o primeiro dia de vida. Respeitei seu pensamento tão filosófico: por mais novos que sejamos, sempre teremos
um dia anterior ao de hoje e isso, de fato, não deixa de ser passado.
Vá, Michelle, as letras a esperam. Seu gosto por escrever se sobrepõe a todas as dúvidas da gramática, a todas as técnicas de construção de frases. Quando estiver
escrevendo, use apenas suas idéias, seus sentimentos, suas lembranças, sua ficção. Esqueça-se das “normas cultas da língua”, isso virá com o tempo, instintivamente. Desenvolva seu raciocínio, exponha seu pensamento, dê largas a essa imaginação fértil que vem surgindo forte, extrovertida, leve, agradável.
É certo que para dezoito risonhas primaveras, descobre-se no trabalho uma obra madura de quem, parece, já viveu anos e anos. Porém, a arte literária não predsa, ‘necessariamente, refletir a idade do artista. Eu, por conhecê-Ia bem, sei que tem dezoito anos. Mas isso não tira o mérito de seus escritos, muito pelo contrário, engrandece-os. Escrever é um dom e ela o tem. Desperdiçar os impulsos da arte é jogar fora as prendas da Natureza que muitos desejam, mas nem sempre as possuem.
” Lembranças que o tempo não apaga” traz aos jovens a ternura da idade e faz com que eles se sintam compreendidos dentro da rebeldia que lhes é tão peculiar.
” Lembranças que o tempo não apaga” traz aos trintões e quarentões referências ainda de uma adolescência que, agora eles vêem, foi igual a todas as adolescências.
Mas, “Lembranças que o tempo não apaga” traz aos mais velhos uma furtiva lágrima que estava guardadinha no canto do olho e deixam-na rolar, rolar. É a saudade, é a saudade. . .

Noemi Cruz Teixeira

Itaocara, 16/07/96