O empresário Flávio Aragão de Barros, das Lojas A Garotinha, diz que é necessário investir em Planejamento, Educação e Capacitação Profissional, quando se pensa em fazer crescer Itaocara e diminuir a migração dos jovens. Apontou ainda a construção das usinas hidrelétricas da Light e da Santa Giselle como fundamentais ao progresso do município.

Nova Voz – O senhor foi Presidente do CDL de Itaocara, Aperibé e Cambuci por 16 anos. Nesse período pode participar de eventos no Brasil e no exterior, o que ampliou sua visão de mundo. Qual é o principal aprendizado, quando se pensa em construir um município próspero e desenvolvido?

Flávio Aragão – É necessário planejamento para geração de empregos, investimentos na educação e capacitação de mão de obra especializada, conforme a demanda do mercado globalizado. O planejamento é o caminho que nos leva a atingir determinado objetivo. Nos eventos que participei, notei que sucesso está em saber aonde queremos chegar? Ao mesmo tempo saber quais os passos necessários para tal? Ou seja, do céu só cai chuva, nada mais. Já educação e mão de obra especializada é um binômio. As pequenas cidades que se destacam têm, por exemplo, o perfil universitário. Fora isso é criar uma política de capacitação profissional para quem já está no mercado de trabalho, no caso de Itaocara, voltado à agricultura, a pecuária, ao comércio e a indústria.

Nova Voz – Ainda neste contexto, a grande imprensa tem publicado que o Brasil é um dos países que mais cresceram no mundo nos últimos anos. Por que não sentimos isso em Itaocara?

Flávio Aragão – Dados estatísticos de órgãos como o IBGE, mostram que realmente este crescimento não atingiu nossa região. No Estado do Rio de Janeiro, o noroeste ainda é visto como local periférico, sendo assim só vemos o progresso pela televisão. Recente matéria publicada no jornal O Globo e nos sites associados, apontam Itaocara como um dos municípios que mais decresceram em todo Estado. A população jovem continua sua trajetória de migração, que antes era dirigida apenas aos grandes centros urbanos e há alguns anos passou a buscar a região dos lagos. Vamos nos tornando uma cidade de crianças e idosos.

Nova Voz – Deixar apenas de reclamar e buscar participar efetivamente na comunidade seria uma dica importante na busca do progresso que todos queremos?

Flávio Aragão – Sem dúvidas que criar uma consciência e participar efetivamente da vida política, social e econômica é essencial para sairmos do ostracismo. Mas não basta isso. Como já disse acima é fundamental ter um objetivo e planejamento para chegar nele. As grandes empresas funcionam assim. Nesta época do ano, estão colhendo o que plantaram ano passado. Os planos para 2011 já estão prontos. Enquanto isso, qual é o plano e a estratégia global de crescimento que o município tem?

Nova Voz – Recentemente o ex-prefeito Carlos Moacyr Faria Souto faleceu. Mesmo seu último governo tendo se encerrado em 1977, quando se fala em Itaocara fora das nossas fronteiras, o que se ouve são sobre obras e investimentos dele. Faltou criatividade aos governantes que o sucederam?

Flávio Aragão – O Dr. Faria Souto é um ícone de nossa história. Tinha uma visão privilegiada do mundo. Suas obras colocaram Itaocara numa posição de destaque no noroeste. Os Prefeitos que vierem depois também fizeram coisas importantes, como o Projeto Tatu, a urbanização de bairros tal qual o Sardinha e o BNH e a busca de colocar as finanças em dia. O problema é que o mundo de hoje é muito mais veloz. Meus sonhos da juventude eram bem mais modestos do que os dos meus filhos. Desta maneira, administrar apenas o dia a dia, não atende as necessidades atuais. Educação não é meramente oferecer escolas, mas sim oferecer escolas que possibilitem a realização dos sonhos; e saúde não é mera ausência de doenças, mas sim a sensação de felicidade. Os desafios deste século são grandiosamente maiores e os administradores, seja da coisa pública ou da iniciativa privada, precisam estar antenados nestas necessidades.

Nova Voz – Um dos fatores fundamentais ao desenvolvimento econômico é a geração de energia. Neste aspecto, temos quatro projetos de construção de barragens nessa região. Duas pela Light e duas pela Santa Giselle empreendimentos. Qual é a relevância disso no crescimento da cidade?

Flávio Aragão – Energia é o insumo mais importante do desenvolvimento econômico. Progresso é feito a máquinas, e máquinas só funcionam com energia. O fato da Light e da Santa Giselle estarem desenvolvendo quatro projetos de usinas hidrelétricas no noroeste, é fator essencial da alavancagem de um grande progresso. Não se trata apenas da obra. Na verdade depois de construídas, é que podemos usá-las como ferramenta principal na busca de novos investimentos, principalmente no setor industrial. Quem está informado, sabe que ter geração de energia próximo, garante confiabilidade ao sistema e dessa maneira induz a industrialização. Na fase de construção, governo e sociedade civil organizada, precisam participar para minimizar os possíveis efeitos negativos e maximizar os efeitos positivos. O que não podemos é tentar impedir este progresso.

Nova Voz – Mesmo com pouco ou nenhum apoio, há setores da economia que prosperaram nas últimas décadas. A indústria de confecção é um grande exemplo, pois hoje emprega significativa parcela da população de Itaocara. O que poderíamos fazer para apoiar estes heróis anônimos?

Flávio Aragão – O itaocarense é realmente empreendedor. Apesar dos números estatísticos do IBGE e da reportagem publica no jornal O Globo, realmente algumas empresas, lutando contra as dificuldades, conseguiram crescer. O setor de confecções é um ótimo exemplo. O apoio deve vir de órgãos como o SEBRAE, o SENAC, o SESI. Entidades que possuem diversos cursos de qualificação, não só voltado aos empregados, mas voltados inclusive aos empresários, sem esquecer os recursos de financiamento. Tudo volta à resposta da primeira pergunta: Planejamento, Educação e Qualificação de Mão de Obra. Crescimento precisa estar alicerçado sobre este tripé.

Nova Voz – Muito se fala em criar um Distrito Industrial. Ao mesmo tempo a região que abrange Portela, Papagaio, Vista Alegre e etc., tem diversas fábricas em setores diferentes como móveis e produtos alimentícios. Não deveríamos formalizar em lei a criação do referido Distrito nestas localidades?

Flávio Aragão – Com certeza. A Prefeitura e a Câmara de Vereadores podem criar lei reconhecendo aquela ampla região como Distrito Industrial, dando os incentivos fiscais, zoneando uma área preferencial, aproveitando também os benefícios fiscais do Estado e da União, e ainda o fato de lá ser o lugar em que será construída a Usina Hidrelétrica Barra do Pomba. Pessoalmente vejo isso como algo prioritário quando se pensa no progresso de Itaocara.

Nova Voz – O bom desenvolvimento é feito pelos investimentos da iniciativa privada. Os governos Federal, Estadual e Municipal, não deveriam focar o apoio aos setores produtivos para que estes pudessem crescer, gerando os empregos e impostos que tanto precisamos?

Flávio Aragão – No mundo inteiro é assim. A China comunista se abriu para o capitalismo, trazendo investidores de varias partes do planeta, garantido regras de mercado. Só há progresso e melhorias sociais, em países que adotam a democracia com sistema político e o liberalismo com sistema econômico. Onde o Estado se envolve diretamente na atividade, normalmente vemos corrupção, burocracia, ineficiência e os males que estamos cansados de assistir nos noticiários.

Nova Voz – Que causas devemos fazer agora para abrimos um horizonte mais otimista no futuro no de Itaocara?

Flávio Aragão – A resposta está em toda essa entrevista. Passamos por um momento de estagnação. Necessitamos unir forças no sentido de envolvermos o setor público e privado, na direção da criação de novos empreendimentos, que gerem empregos e perspectivas de crescimento nos setores da agricultura, da pecuária, da industrial e do comércio. Não podemos fechar as portas de negociação com as empresas que trazem propostas para a construção das barragens. Uma grande transformação do município vai começar com a construção das usinas hidrelétricas e vai continuar bem depois, se estivermos engajados neste projeto.