Manoel Júnior

Manoel Júnior

Quem conhece sabe do talento excepcional de Manoel Júnior, o responsável principal pela concepção artística de algumas importantes festas itaocarenses, como o famoso Carnaval Vivo. Também como figurinista do Teatro Rock Hudson. O que não sabíamos, é que ele iria revelar essa nova faceta: de tatuador magnífico. Leia abaixo e descubra o motivo do seu estúdio estar fazendo tanto sucesso.

Nova Voz – É notório seu talento enquanto artística plástico e carnavalesco. Tatuador foi realmente uma novidade para Itaocara. Como surgiu esse Júnior?
Júnior – Na verdade minha formação é de desenhista artístico e publicitário. Também fiz diversos cursos isolados, como serigrafia, desenho arquitetônico e volumétrico, e desenho de moda. Fiz outros cursos ligados na área artística e cultural. Com tantos estudos precisava custear isso, então fui trabalhar vendendo quadros no calçadão, fazendo artesanato e tatuando em estúdios na cidade do Rio de Janeiro. Na época foram as alternativas. Com isso tive o prazer de tatuar ao lado de grandes mestres que me ensinaram diversos segredos e técnicas.

Nova Voz – Tatuagem durante muito tempo foi algo que estigmatizava. De repente tornou-se Cult. Quando houve essa mudança?
Júnior – Realmente foi marginalizada e mal interpretada. A bandidagem se tatuava para, de certa forma, intimidar os adversários. Por isso é comum gangues se marcarem, exibindo a hierarquia do grupo criminoso. No Japão, a famosa máfia Yakuza, é assim. Mesmo com essa história, atualmente a tatuagem (pelo menos no Brasil e países ocidentais) está ligada a estética, sem deixar de ser referencia de caráter e atitude, só que de uma maneira positiva, bonita e sensual. Atores famosos e modelos usam tatuagens. Alias, usam e exibem com orgulho. Por isso o tatuador precisa ter responsabilidade sobre a arte que pinta no corpo, para não deixar voltar aquela imagem ruim de antigamente.

Nova Voz – Falando especificamente sobre seu trabalho em Itaocara, que tipos de tatuagens são escolhidas com mais freqüência?
Júnior – Como em qualquer lugar no qual não temos uma identidade cultura bem definida, imitamos muito outros estilos. Nossa especificidade é o desenho de fadas e borboletas. O que não quer dizer que são iguais. Só para o leitor ter uma idéia, a mesma imagem é feita de maneira diferente, de pessoa para pessoa. Isso tem a ver com o formato do corpo e mesmo com o astral de quem é tatuado. É o que torna artístico o trabalho que faço. Se algum dia inventarem uma máquina para tatuar, não será mais arte, será pura mecânica.

Nova Voz – A tatuagem está ligada somente ao público jovem ou abrange um universo diversificado?
Júnior – Tenho clientes de todas as idades. Desde que seja maior de 18 anos (se menor com autorização dos pais ou responsáveis), não há problemas em tatuar. Muitos querem fazer homenagens ou marcar símbolos de amizade. Também há pessoas bem resolvidas socialmente, realizando desejos de infância, o que me faz sentir a vontade, pois são tatuagens que exprimem sentimentos ou realizações profissionais determinantes.

Nova Voz – O que vem a ser uma tatuagem bem feita?
Júnior – Uma boa tatuagem depende principalmente de um bom desenhista e não de um bom desenho. Não existe tatuador que não sabe desenhar. Apenas manejar ou conhecer as técnicas, não é suficiente para fazer algo realmente bonito. Um bom desenhista vai saber retratar com clareza e solucionar as dificuldades que surgem no decorrer do serviço. Quem quer fazer bem feito, precisa pesquisar entre os amigos que já fizeram alguma tatuagem, o que acharam do resultado e assim escolher com responsabilidade.

Nova Voz – Que tipos de cuidados você toma na hora de tatuar uma pessoa, quando se refere precipuamente à saúde e a higiene?
Júnior – Meu estúdio foi montado com todos os cuidados e respeito ao cliente, seguindo as normas de biosegurança. Os equipamentos são descartáveis e autoglavados. Esse é um aspecto que jamais descuido.

Nova Voz – Quais os lugares mais incomuns onde as pessoas andam se tatuando?
Júnior – Tatuagens são feitas em várias partes do corpo. Na virilha, no seio, na bunda, no lábio. É uma escolha totalmente feita pelo cliente. Vou revelar um detalhe: algumas tatuagens buscam corrigir cicatrizes deixadas por cirurgias como as cesarianas, apagando algo que não deixava alguém a vontade.

Nova Voz – Antes de definir que quer se tatuar, você aconselha a pensar bem?
Júnior – Quando alguém me procura para fazer qualquer tatuagem, sempre lembro que é uma decisão tomada para toda a vida. Precisa ser feito na hora certa, no local certo e o desenho certo. Faço então uma simulação computadorizada para o maior conforto do cliente, assim ele poderá ter certeza do que esta fazendo. Fazer tatuagem impulsionado pela emoção do momento pode levar a desgostos no futuro. É sempre melhor pensar duas vezes, para jamais se arrepender.

Nova Voz – Há como remover uma tatuagem depois de feita?
Júnior – Hoje existem algumas técnicas, nada baratas, como laser e alteração de pele. Mas, sinceramente, nunca mais fica perfeito. Já vi pessoas que removeram a tatuagem e o local não ficou nada legal. Nos casos de arrependimento, a opção seria fazer outra tatuagem sobreposta. Quando fiz o curso de hiper realismo muitas técnicas de cobertura de antigas tatuagens foram apresentadas. Caso alguém queira saber mais, basta me procurar.

Nova Voz – Num futuro pensa em promover um encontro de tatuados?
Júnior – Um encontro ainda não, porque depende muito do calendário anual que a Associação segue. Mas com certeza ainda este ano irei promover um grande desfile de tatuagens, com modelos de Itaocara. Aguardem.

Nova Voz – Que mensagem final deixaria aos leitores?
Júnior – Quero agradecer imensamente pela grande confiança que as pessoas vêm depositando no meu trabalho. A procura superou minhas melhores expectativas. É realmente significativo ter a permissão dos clientes para mostrar no seu corpo um pouco do meu trabalho. É isso o que me motiva a fazer da tatuagem mais do que um simples traço, fazer uma obra de arte.


Ronald Thompson