Monsenhor Pedro Maia Saraiva

Monsenhor Pedro Maia Saraiva

Nascido em São Roque. Filho de família pobre, oriunda de Minas Gerais, cujo pai trabalhava plantando fumo. A dureza da vida o levou aos dez anos a juntar-se com outros três meninos e começar a trabalhar como engraxate. O dinheiro arrecadado ajudava a fazer as compras de casa. O menino engraxate tornou-se um dos maiores ícones da sociedade itaocarense. Trata-se do Monsenhor Saraiva.

*22/09/1919      + 07/12/2011

Fundo de Cena


Há muito tempo quero entrevistar o Monsenhor Pedro Maia Saraiva, por vê-lo como uma das principais personalidades da história de Itaocara. Ano passado pedi ao amigo Waltair Sias Gomes que intermediasse nosso encontro. Mesmo tendo sido atendido, em função do meu trabalho e dos estudos não pudemos nos reunir.
Felizmente fui convidado para um café da manhã comunitário da Polícia Militar no Nacional Esporte Clube. Lá encontrei Monsenhor. Atendeu-me com sua gentileza e amabilidade típicas, e começamos ali mesmo um bate papo que no dia seguinte transformou-se na entrevista desta edição.
No final fiquei impressionado com a coragem como enfrentou várias dificuldades da vida, desde a pobreza na infância, até a prisão no regime militar, tendo sempre o interesse da comunidade em primeiro lugar. O que vão ler é um documentário histórico que espero seja guardado para posteridade pela Biblioteca Pública e por todos os leitores.

Uma história


Com doze anos resolveu mudar-se para cidade. Ousado procurou o Prefeito Alcebíades Carvalho pedindo-lhe um emprego, travando o seguinte diálogo:
– Quantos anos você tem? – questionou o Prefeito.
– Não sei bem direito.
– Você é muito criança. Não vou lhe dar um emprego.
Nesse momento o Prefeito foi ao banheiro e deixou sua chave cair dentro da privada, ficando aturdido com o acontecido. O menino Saraiva não pensou duas vezes. Meteu a mão dentro do vaso sanitário e pegou-a, para espanto de Alcebíades, que ficou desesperado, procurando álcool para lavar-lhe a mão. No meio da agitação perguntou:
– Você é filho de quem?
– Zeca Mineiro, respondeu Saraiva.
– Seu pai votou contra mim.
– Eu nem voto. Não sou nem eleitor.
– Seu pai fala demais. Mas deixa pra lá. Você vai trabalhar aqui, como porteiro (uma espécie de boy da época).
Assim, com doze anos, lavando banheiros, varrendo o chão e fazendo pequenos serviços entrou para Prefeitura.

O início da vida


Nova Voz – O que era a “quadrilha”?
Monsenhor Saraiva– Quando jovem formei um grupo que fazia pequenos trabalhos na cidade, como carregar as malas dos passageiros que chegavam e saiam da estação para os hotéis, capinar quintais, carregar água, pois a maioria das casas não tinha água encanada e outros serviços gerais. Como numa cooperativa, no final do dia contávamos o dinheiro e dividíamos entre nós. O curioso é que os outros meninos eram de famílias ricas e mesmo assim, os liderava.
Nova Voz – O senhor era apenas uma criança na época, mas o Prefeito Alcebíades o respeitava muito.
Monsenhor Saraiva – É verdade. Lembro-me que depois de estar trabalhando com ele, pedi que desse emprego ao meu pai. Atendeu meu pedido e o contratou como varredor de rua. Foi uma alegria muito grande para nossa família. Conseguimos alugar a casa da italiana Ângela Nicola Mari, que em princípio não queria, pois disse ser meu pai velhaco por não pagar as contas. Voltei ao Prefeito que na hora tornou-se fiador e pudemos mudar. Viemos morar de frente a rodoviária.

Festa de Portela


Nova Voz – Como foi sua juventude?
Monsenhor Saraiva – A mesma de qualquer pessoa sem religião. Muitos namoros. Freqüentava os bailes e todas as encrencas de um rapaz sem Deus. Foi então que fui numa festa em Portela, no dia 29 de junho. Naquele tempo o costume era o homem pagar todas as despesas. Uma menina ajudar pagar qualquer conta, por menor que fosse, era uma humilhação. Levei o dinheiro necessário para me divertir, no entanto queria ganhar mais e fui jogar roleta, então permitido por lei. Perdi tudo. O baile começava às dez horas, mas não tinha como ir. Desanimado passei enfrente ao hotel e avistei o Padre Cônego de Ananias, que acabava de chegar de Pernambuco. Ele me chamou e começou a conversar comigo. Disse que me emprestaria o dinheiro para ir ao baile e começou a falar sobre pecado. Pensava: “que coisa mais chata”. Fui ficando com sono e dormi no quarto que ele alugará, acordando na segunda-feira. Muito mal humorado, dei uma esculhambação danada.
Nova Voz – Esse episódio deve tê-lo deixado zangado.
Monsenhor Saraiva – Falava comigo mesmo: “padres nunca mais”. Padres dão azar. Fui então à rua levar uma correspondência para Prefeitura. Quando passei na ponte, avistei o padre. Pensei “danou-se”. Estava de bicicleta, que como todos sabemos, não dá marcha ré. Fui devagarzinho para que não me visse. Não adiantou.. Me parou e perguntou se era o mesmo menino de Portela e convidou para ir à sua casa. Para me livrar dele, concordei. Ai ele usou a psicologia, dizendo que duvidava que fosse. Que itaocarense não tinha palavra. Com raiva resolvi ir, sendo muito bem recebido. Não falou de pecado e ainda me deu um maço de cigarros. Mesmo assim, aquela noite foi impossível dormir. Comecei a refletir sobre o que tinha ouvido na festa de Portela. Inferno! Paraíso! Castigo! Levantei, peguei meu paletó e bati na porta da igreja. Eram onze horas da noite. Fiz o padre levantar da cama. Disse a ele que queria ser ouvido em confissão. Naquele dia me converti. Passei a freqüentar a missa regularmente e ter uma formação religiosa.
Nova Voz – Foi nesse momento que o senhor foi para o seminário?
Monsenhor Saraiva – Não. Muito depois. Por causa da vida desregrada da juventude, precisei melhorar minha imagem na sociedade. Fundei uma tropa de escoteiros pela Prefeitura, e fazendo trabalho sério conquistei o respeito da comunidade. Seis anos depois da conversão, com a idade de 26 entrei para o seminário.

Prisão e perseguição no Regime Militar


Na mesa de documentos de apoio do Bispo no momento da perseguição pelo regime miltar.

Nova Voz – Como foi seu período no exército?
Monsenhor Saraiva – O ano era 1945 e meu comandante no III Regimento de Infantaria de Niterói, era o Coronel Paulo Torres, de Cantagalo. Quando lhe disse que era de Itaocara, ficamos amigos. Anos depois, quando a revolução de 1964 estourou, o pessoal da antiga UDN e alguns setores conservadores da igreja articularam para que eu fosse preso como subversivo. Na época Paulo Torres era General e foi nomeado Governador do Rio de Janeiro. Fizeram uma reunião no clube União. Mesmo sem ser convidado fui ver os algozes que buscavam minha condenação. Proibiram que apresentasse minha defesa. Mas o Governador deixou que falasse. Levantei e quando pensavam que pediria desculpas, dei um soco na mesa e gritei que me prendessem se fosse criminoso. Mas que também tivessem a coragem de me deixar livre se fosse inocente. “Sou, fui e serei eternamente amigo de Getúlio Dornelles Vargas, de Roberto Silveira e de Badgé. Sou um brasileiro honesto”. Nesse momento o Governador e General Paulo Torres levantou-se e confirmou minha honestidade, acrescentando que era meu amigo e me daria às chaves do Palácio do Ingá (Residência Oficial do Estado) para entrar à hora que quisesse. Nunca vou esquecer o momento que saímos abraçados e encontramos minha mãe na porta do clube, que disse ao General: “o senhor é o lenço que acaba de enxugar minhas lágrimas”. Neste momento aquele homem superpoderoso chorou. Depois me deu uma carta dizendo que tinha todo seu apoio.
Nova Voz – O que aconteceu para que o senhor fosse visto como subversivo?
Monsenhor Saraiva – Queria construir um hospital em Itaocara e soube que haveria uma grande reunião em Bom Jesus, com a presença do Governador Badgé da Silveira, do Brizola e do Presidente João Goulart (Jango). Então fui até lá tentar conversar com essas autoridades. A motivação era somente trazer um benefício novo para Itaocara. Levei uma pasta com o pedido para ser entregue ao Presidente da República e um discurso copiado da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Fiquei no meio do povo. Um ajudante de ordens me chamou para subir ao palanque, ficando ao lado do Governador Badgé. Lá pelas tantas o Jango me pediu para falar. Como recusar o pedido do Presidente da República? O discurso estava voltado à defesa dos lavradores, uma bandeira até hoje esquecida. Parodiando o hino da independência, defendi o Brasil forte, livre e soberano. A imprensa então publicou que tinha pregado a decapitação dos fazendeiros. Mentira deslavada. Tanto é que possuía uma carta dos fazendeiros comigo. Dos lavradores também. Era amigo das duas partes.
Nova Voz – Mas o que aconteceu?
Monsenhor Saraiva – Fizeram uma pressão tremenda contra mim. Meu Bispo havia me aconselhado a não sair de casa. Saí para visitar o compadre Orlando, quando parou um carro. Era o Prefeito de Pádua (da UDN) que me pediu para ir com ele, dizendo que não seria preso. Dr. Bucker ainda me perguntou se acreditava no que estava ouvindo. Respondi que sim. No entanto, quando chegamos a Aperibé entraram uns homens armados no automóvel e cheguei preso em Pádua. Antes de me levarem para Niterói, onde ficaria detido no Regimento de Infantaria, consegui ligar para o Secretário de Segurança Pública que ordenou minha soltura.
Nova Voz – Deve ter sido dramático.
Monsenhor Saraiva – Rezo todos os dias para que o Brasil nunca mais viva a angustia daqueles dias de exceção.
Nova Voz – Já ouvi contarem na cidade que o senhor ajudou muitas outras pessoas que foram perseguidas pelo Governo da época?
Monsenhor Saraiva – Era meu dever como padre, como homem e como brasileiro. Escondi alguns na minha casa e muitas vezes fui à delegacia para evitar que covardias acontecessem. Lembro-me de um rapaz da Conceição, se não me engano havia sido Vereador e tinha sido preso. O Delegado quis me impedir de vê-lo. Falou que o rapaz era comunista. Respondi que ele nem sabia o que era isso. Consegui tirá-lo de lá. Tinha o Bispo ao meu lado e isso me ajudou muito.

As transformações da Igreja Católica


Nova Voz – Quando o senhor começou a vida sacerdotal o Papa era Pio XII. Agora estamos no papado de Bento XXVI. São cinqüenta anos de vida dedicada à Igreja Católica Apostólica Romana. Quais foram as principais transformações desse período?
Monsenhor Saraiva – O Concílio Vaticano II em 1960, liderado por João XXIII, fez a principal mudança. As missas eram realizadas em latim e passou-se então a usar o vernáculo de cada país. Era de costa para o povo. Agora é de frente. Essas são as mudanças que ao meu ver são as mais importantes.
Nova Voz – Muitos acreditam que o celibato dos padres deveria ser abolido para que pudessem casar-se e constituir família. Qual sua opinião sobre o assunto?
Monsenhor Saraiva – Na Igreja Católica existem coisas dogmáticas e imutáveis, e outras coisas disciplinares. O celibato é disciplinar instituído pelo Papa. Quem sabe um dia o Papa venha abolir o celibato? Se quiser é possível. Um exemplo é que o clérigo oriental pode se casar.
Nova Voz – O senhor acredita que isso possa acontecer já no papado de Bento XXVI?
Monsenhor Saraiva – Não acredito. No futuro, quem sabe?
Nova Voz – Qual sua visão sobre o chamado movimento carismático, liderado por padres famosos e que celebram missas mais alegres?
Monsenhor Saraiva – A Igreja tem diversos seguimentos. São movimentos de Igrejas, que possuem a sua espiritualidade. Na minha paróquia dou total apoio. Acho que os carismáticos fazem um bem enorme a Igreja. Pessoalmente sou adepto de uma espiritualidade mais interna.
Nova Voz – E a famosa teologia da libertação, dos Freis Beto e Leonardo Boff?
Monsenhor Saraiva – De Dom Elder, Dom Mauro e outros leigos. Essa teologia é a que acaba com o pecado. Filosoficamente está muito próxima ao socialismo. Sem as imagens, sem as batinas e etc. No meu ver fez um grande mal a Igreja.
Nova Voz – Pelo que acabou de dizer podemos concluir que a Teologia da Libertação é muito política. Qual é sua avaliação sobre a militância política da Igreja Católica no Brasil?
Monsenhor Saraiva – Sou totalmente favorável ao que está escrito na Constituição Federal de 1988: separação entre o Estado e a Igreja. São coisas as quais não se devem misturar. Os católicos sim, como cidadãos devem participar da vida política. Mas a Igreja como instituição deve cuidar somente do aspecto espiritual da vida dos seus fieis.
Nova Voz – Concluindo, existe uma receita para estar sempre tão bem humorado?
Monsenhor Saraiva – Quando acordo, me preparo para ter um excelente dia. Rezo e procuro rir um pouco. Nada melhor que o bom humor, um tônico para saúde e juventude. É o que recomendo a todos.

Lembranças da Itaocara Antiga


Nova Voz – O que lhe traz mais recordação da antiga Itaocara?
Monsenhor Saraiva – Sinto saudades do respeito que havia entre as pessoas. Mesmo nas paqueras e nos flertes típicos da juventude, nos respeitávamos muito. Também a cidade era menor. No aspecto social, os cinemas Ita Cine e Central. O Ita Cine funcionava onde é o União e era freqüentado pelas famílias mais pobres. Já o Central ficava onde é o Itaú e seu público era o de maior poder aquisitivo. Dois times de futebol, o Itaocarense e o São Cristóvão. Na praça havia uma pedra retirada do rio pelos índios em que estava escrito “Vocês passarão. Aqui estou e ficarei”. Um marco da cidade. Havia ainda um belíssimo coreto. Tudo perdido no tempo.
Nova Voz – Itaocara sempre foi uma cidade com tradição em jornais?
Monsenhor Saraiva – Sempre. O Nível existia antes mesmo que nascesse. Vicente Borges Pinheiro Júnior, militar reformado, fundou o Lidador. Um jornal espetacular, feito em linotipos. Isso é reflexo do alto grau de cultura que Itaocara historicamente sempre teve.

Personalidades da História


Abaixo Monsenhor dá sua impressão sobre algumas personalidades históricas de Itaocara. É um depoimento único, que pode ajudar a melhor entender as pessoas que fizeram a nossa história.


Manoel Agápto
– Um homem com pouca cultura e que vivia de empreitadas. Era contratado para matar. Quando a polícia vinha, o Delegado o avisava e podia fugir. No entanto era muito tratável. Lembro-me, que morava na roça, quando o avistamos. Meu pai falou: “não olhe para o senhor Manoel, a não ser que ele nos chame”. Ele chamou.
– Venha cá – disse a meu pai.
– Pois não seu Manoel – Respondeu.
– O menino não pode ouvir. Fica para lá. Como está a situação em Itaocara?
– Os policias estão chegando. Tem muitos soldados lá. Vieram para lhe prender.
Ele então fugiu. Depois foi assassinado por um sobrinho. Mesmo com tudo isso, Manoel Agápto tinha um certo senso de justiça e ajudava as famílias mais pobres.

Eliana Macedo – Nasceu entre Itaocara e Batatal na Fazenda dos Lourenços. Depois é que mudou-se para Portela. Linda. Foi Miss da cidade. Quando estava estudando em Pádua conheceu um professor de Educação Física, do qual contasse, se apaixonou. Numa festa de Portela aconteceu uma tragédia, quando esse foi assassinado. Depois ela foi para o Rio e fez sucesso. Curioso que seu nome era Eli. Como tinha uma grande amiga chamada Ana, adotou o nome artístico de Eliana. Na época a família Macedo era formada de artistas de rádio e televisão.

Alaôr Scisínio – Os pais dele faleceram. Foi meu escoteiro. Trabalhou na Prefeitura. É uma pessoa a quem ajudei muito. Trabalhou em Cantagalo com um advogado, secretariando. Muito inteligente aprendeu o ofício das Leis e passou a ter enorme respeitabilidade, iniciando a vida como rábula (quem antigamente podia advogar sem ter curso superior). Briguei muito para que entrasse na escola de Direito e terminasse o curso. Tive o prazer de ir a sua formatura.

Nildo Nara – Ele é de Cantagalo. O Diretor do Ginásio de Miracema colocou uma filial em Itaocara, onde hoje é o Hotel a beira da ponte. O Nara veio tomar conta da casa. Aproveitando estudou e formou-se. Como mestre talvez seja o professor mais importante da história da cidade, pelas gerações que passaram em suas mãos, no famoso Colégio Itaocara.

Nilza Viégas – Uma mulher inteligente. Professora, artista plástica e agora escritora de livros em que muitas memórias boas de Itaocara são preservadas para as futuras gerações. Recentemente lançou O Baú, cuja leitura recomendo a todos que se interessam pela cidade.

Kleber Leite – Um homem importantíssimo, que leva o nome de Itaocara para além muros. O BALI (Boletim Acadêmico Letras Itaocarenses) é distribuído para muitos países. Também sou admirador da sua formação intelectual.

Henrique Resende – Um gênio que transforma o barro em gente. Fez a imagem do fundador da cidade, Frei Thomas, que está na praça em frente à Igreja Católica. Em Santa Maria Madalena fez o busto da famosa atriz brasileira Dercy Gonçalves. Mais importante é que o reconhecimento do seu talento, não lhe tirou a humildade. E é justamente essa simplicidade que cativa a todos.

José Romar Lessa – Foi Prefeito de Itaocara duas vezes. Particularmente gostei mais do primeiro governo. Filho de Jaguarembé, quarto Distrito de Itaocara. Um bom homem. Honesto, trabalhador. Tive o prazer de ter sido Secretário de Educação em sua gestão, de modos que sou suspeito para falar.

Dr. Robério Ferreira da Silva – Oriundo de Cambuci, veio para cidade muito novo e começou a clinicar. Sempre atendeu bem aos mais pobres. Chama atenção sua simplicidade, independente de ser médico ou Prefeito. Gosto muito dele. Um ser humano de grande valor.

Joaquim Soares Monteiro – O melhor Prefeito da história de Itaocara. Também fui Secretário em sua gestão. Lembro quando me disse: “eu posso errar. Só tenho a terceira série. O senhor não pode errar, porque é muito mais estudado do que eu”. Uma ocasião fomos a Brasília. O Presidente era o General Emílio Garrastazu Médici. Conhecendo seu jeito de ser, pedi para que não gritasse, pois estávamos na Capital Federal. Regime Militar. Não adiantou. Berrava daqui e dali, até que vimos um oficial e me perguntou quem era aquele. Respondi que era um Coronel, chefe de Gabinete do Ministro. Joaquim foi até ele e disse: “escuta aqui, sou Prefeito de Itaocara, Estado do Rio, vim aqui com meu dinheiro e não posso ficar perdendo tempo. Diga lá ao Ministro para me atender agora”. Incrivelmente não fomos presos, mas sim recebidos e conseguimos as agências do Banco do Brasil e logo depois a Caixa Econômica Federal para cidade.

Carlos Moacyr Faria Souto (Dr. Carlinhos) – Em sua primeira gestão era um menino. Tão garoto, que numa ocasião alguns Prefeitos do Estado do Rio foram se reunir com o Presidente. Getúlio Vargas, ao vê-lo perguntou pelo pai, pensando na verdade que estava apenas representando o Prefeito. Na mesma hora respondeu: “eu sou o Prefeito de Itaocara. Estado Novo, gente nova”. Getúlio sorriu e lhe disse: “muito bem menino”. Mesmo com a pouca idade já demonstrava a genialidade e que pensava muito à frente da maioria dos da sua época. Foi o Prefeito mais preparado que já tivemos.

Waltair Sias Gomes – Meu aluno. Uma figura importante para Itaocara. Sua tranqüilidade faz com que seja um ótimo conselheiro e uma figura de grande valor. O tenho como amigo. Como se diz popularmente “é uma figuraça”.

Dr. Nelson Freitas Rodrigues – Meu médico. Lembro-me que quando chegou menino na cidade sua mãe, que é itaocarense, recomendou-lhe e dei toda cobertura. Homem caridoso e com um coração enorme. Agora seu filho segue os passos.

Irmão Pedro – O Bispo Dom João da Motta, vendo a boa vontade dele, deu-lhe a batina, mesmo sem ser ordenado no sacerdócio. Fez um grande bem quando comprou aquela propriedade em Jaguarembé para dar assistência as crianças. Muito amigo e bondoso. Depois voltou para Minas.

Irmão Mendes – Trabalhava junto ao irmão Pedro, com as crianças órfãs. Depois foi para São Gonçalo desenvolvendo o mesmo trabalho. Quatro anos atrás no encontramos. Depois disso não tive mais notícias.



Após a entrevista o jornalista Thompson, fez questão de fotografar
ao lado do grande Itaocarense Monsenhor Pedro Maia Saraiva


Ronald Thompson