Geomar Alves da Cunha

Geomar Alves da Cunha

Marangais não necessitaria de apresentação. Retrata o artista da imaginação, a sensibilidade da alma poética de um filósofo do amor. Em Maragais o poeta revela grande ternura fixando em quase todas as linhas sua preocupação para com a mulher amada, elegendo o amor como tema principal do livro. “Amor é uma coisa sublime/Quem ama tem que sofrer/Amar e sofrer se define/Como nascer e viver”. O desprezo pela vida e pelo sofrimento marcam, também, os versos tristes de Maranga. “Mesmo arriscando sofrer a mesma dor, desejo começar tudo de novo”.
A vida, nas páginas de Marangais é tratada com o mesmo fatalismo com que o autor vê o amor, a miséria e o sofrimento. “Eu sinto que o fim se aproxima/Começo a perder as forças lentamente”.
A seguir, em Passageiro, afirma: “Sou um desgraçado passageiro deste mundo”. “Eu sou a morte que sempre aparece/No medo, na ternura, no ódio ou no amor”.
O amor lhe faz sentir o desejo do contato com a mulher amada: “Deixa-me sentir toda doçura/Deixa-me cobrir-te com meus beijos”.
Nas poesias de Maranga há luz, aroma das tardes de Marangatu, há vida dentro das estrofes, que mesmo cantando seu desejo de amor, seu desapego à vida que vê passar dia a dia, e, na sua frente, fugir a muitos, nem por isso se desencanta do mundo. “A bondade do ser humano está no interior”.
O pensamento arredio do autor é embalado ao som das corredeiras dos rios da região onde vive. Escreve os versos vivendo, em cada um, intensamente o pensamento que é o mote de sua alma.
Ora, são os lábios da mulher amada: “Lábios que julguei fossem só meus”, ora renunciando a toda idéia de esquecê-la”: “Nada mais farei para te esquecer/Todas as juras que fiz eu quebrei”. E assim prossegue. Maranga canta seu estilo de pensamento, exprimindo o poeta e o pensador em imagens criadas sob todas as formas.
Esta é a apresentação desnecessária de Marangais, num culto à Natureza, em linhas vazadas de romantismo, elege-se a mulher venerada na esperança de uma compreensão profunda, cheia de amor exaltado e de paixão, ou na dor e alegria, na certeza ou na dúvida.

“Dr. Carlos Moacir de Faria Souto

TERRA SECA

A terra está secando.
O sinal de vida que é a razão
de sua beleza, está desaparecendo.
As árvores desfolharam-se.
As hervas secaram.
Os animais procuram as fontes
que ainda existem.
Não se ouve os gorgeios, as
sinfonias dos pássaros.
Tudo é silêncio, como se o mundo estive!!se acabando.
Os homens, preocupados, olham o céu. Nenhum sinal de chuva.
Suas angústias aumentam, quando
seus filhos choram.
Lembram-se que Deus existe.
Rogam suas bênçãos, num coro de prece. Lamentos comovidos.
Cadeia de murmúrio aos céus.
Deus, a chuva não vem.
Nós estamos morrendo.
As águas secaram.
A fome chegou.
Nossos filhos choram.
Mande chuva, Senhor.
Finalmente, o murmúrio de vozes comoventes, chega aos céus.
As nuvens, ao longe, surgem.
O sol se esconde, aos poucos.
Escurece. Prenúncio de tempestade.
O céu, agora, está de luto, pelas
vidas que se foram.
i: a tristeza do céu, que em pouco
se transformará em alegria.
O rim bombo dos trovões, parecem gemido de dor.
Os relâmpagos clareiam o céu, iluminando o caminho da chuva
que, aos poucos, começa a cair.
É o céu que está chorando!
É a lágrima do céu!
O vento sopra. É o sopro divino,
espargindo a vida!
O clarão no céu é a chama sagrada.
Finalmente, a tempestade passa.
O silêncio, nos primeiros minutos, é total.
Aos poucos aparecem os primeiros sinais de vida.
É a alegria em cada coração.
É o agradecimento a Deus, pelas bênçãos derramadas.
Os pássaros também agradecem, com o seu canto melodioso, em sinfonia.
Os animais, saindo dos abrigos, reaparecem
no campo molhado.
É o retorno da vida!
É o encanto que volta!
É a beleza que chega!
É a vida! É a vida! ! É a vida! ! !